segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Expressionismos ...


Vês ?! Ninguém assistiu ao formidavel
Enterro de tua ultima chimera.
Somente a Ingratidão - esta panthera -
Foi tua companheira inseparavel !


Acostuma-te á lama que te espera !
O Homem, que, nesta terra miseravel,
Mora entre féras, sente inevitavel
Necessidade de tambem ser féra.


Toma um phosphoro. Accende teu cigarro !
O beijo, amigo, é a vespera do escarro,
A mão que affaga é a mesma que apedreja.


Se alguem causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te affaga,
Escarra nessa bocca que te beija !


--------------------------


Falas de amor, e eu ouço tudo e calo !
O amor na humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lyra
De amores futeis poucas vezes falo.

O amor ! Quando virei por fim a ama-lo ?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sybarita e da hetaïra,
De Messalina e de Sardanapálo ?!

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique immaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulchro para o teu sepulchro ?!




(Augusto dos Anjos!!!!)



3 comentários:

Daniel Magrão (Sorrindo for real) disse...

Agradeço a oportunidade de conhecer mais destes versos...

Para mim um acordar enfurecido de quem ama sem mentiras.

É fato que entre monstros humanos o mais humano, almeja ser monstro para se precaver das angustias dos próprios sentimentos.

Não se esqueça da grandesa da dor que se cerca, ela não é um sentimento. É a tradução literal de algo imaginário.

Digo isso em voz alta pra mim porque sou imcapaz de acontecer num mundo contrario...

Se dói...
é porque importa.

E nem sempre importar-se com algo torna esse algo nosso. Mas o importar, ninguem pode tirar dagente.

(desculpa se falei contigo o que digo pra mim mesmo... mas fica o agradecimento e a minha reflexão sobre o texto.)
Um bom dia... e uma melhor noite... Que as horas não demorem demais a passar, nem voem rapido demais para que não possa percebelas.

Gauche gauchíta disse...

Bem interessante tua visão...
É isso msmo!
Os poemas do Augusto (pelo menos pra mim, me tocam de um jeito q nem sei dizer...) transbordam de sinceridade e de naturalidade diante da vida que pra ele, segundo ele, era o reflexo do almejado intangível.
Mas na verdade... eu gosto/ tento de imaginar na possibilidade dessa "humanização", pra mim e pra outros... e tbm na possib. de haver ainda, pessoas com essa ""AURA"" do Augusto... sinistramente bela!

Gauche gauchíta disse...

Sei lá se isso é bom viu... rsrs