segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Expressionismos ...


Vês ?! Ninguém assistiu ao formidavel
Enterro de tua ultima chimera.
Somente a Ingratidão - esta panthera -
Foi tua companheira inseparavel !


Acostuma-te á lama que te espera !
O Homem, que, nesta terra miseravel,
Mora entre féras, sente inevitavel
Necessidade de tambem ser féra.


Toma um phosphoro. Accende teu cigarro !
O beijo, amigo, é a vespera do escarro,
A mão que affaga é a mesma que apedreja.


Se alguem causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te affaga,
Escarra nessa bocca que te beija !


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Falas de amor, e eu ouço tudo e calo !
O amor na humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lyra
De amores futeis poucas vezes falo.

O amor ! Quando virei por fim a ama-lo ?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sybarita e da hetaïra,
De Messalina e de Sardanapálo ?!

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique immaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulchro para o teu sepulchro ?!




(Augusto dos Anjos!!!!)