Imagem: Suicídio, de Édouard Manet, 1877
Este é um post antigo dum amigo meu...
Pra mim, isso fala tanta coisa sobre arte...
esses dias lembrei dessa história muy louca...
Encontrado morto no próprio apartamento, o renomado artista (nome do artista), que se suicidou em meio à própria arte.
Foi  descoberto pelos amigos que, após tanto tempo sem notícias (além do  normal; o artista era dado a desaparecimentos longos e repentinos),  fizeram que o porteiro – também desconfiado por não tê-lo visto sair ou  voltar há tempos – abrisse a porta.
“não consigo entender!” – diz sua melhor amiga (nome da amiga) “ele estava tão feliz a última vez que nos falamos...”
“era de se esperar” – relata um de seus antigos professores de artes – “ele sempre me pareceu um desequilibrado... Até que viveu bastante.”
O laudo médico relata que:
“o  indivíduo (características pessoais) cometeu suicídio à xx horas, do  dia xx  no mês xx deste ano, tendo procedido a estranha façanha de  inserir um pincel no cérebro e em seguida outro no coração, morrendo  certamente com muita dor e sofrimento, ficando por dias agonizando” (doutor [nome do doutor] – médico do IML)
Vem  sendo veiculado na internet, milhares de vezes por minuto, um vídeo com  um compacto das últimas semanas de (nome do artista), onde percebe-se  que este já não estava mais em poder de sua sanidade, falava com alguém  que não estava lá e tinha comportamentos desconexos e sem sentido.
Seu  psicólogo (nome do psicólogo), informa que o artista vinha tendo “crises de inspiração e instabilidade emocional e de humor, e alegava ter encontrado a musa”  – o que foi apontado pelo especialista como transferência afetiva deste para um personagem fictício.
Assim,  termina tragicamente a vida de um dos mais célebres expoentes da nova  arte mundial... Uma perda inestimável para a humanidade, posto que  destruiu todas as obras originais (permitia apenas cópias nos museus),  não sobrando nem mesmo esboços ou anotações, apenas seu corpo estirado  como uma pintura surrealista macabra, todo sangue, fedor  e tintas  enterrado em si.
Qual terá sido seu último pensamento antes de morrer?
            ...pus-me a pintar, freneticamente.
Há dias, semanas, já nem sei... não tenho mais noção de tempo.
Estou possuído pela Musa, não consigo não ver suas cores, seus contornos e não tentar reproduzi-los.
Tudo em vão; meus dons não me permitem alcançar a beleza superior da própria.
Desesperado, ponho-me a destruir todas as tentativas e também qualquer outra tela anteriormente feita...
“Lixo! Tudo lixo!”
“Onde está a verdadeira arte que me permitirá tocar tal perfeição?”
Ponho-me a tentar tudo: recortes, colagens, mesclas, produtos inflamáveis, fluídos diversos, carne humana, sinais diabólicos...
“Nada... aumentando a produção de lixo...”
...
Em meio a lágrimas, tintas e uma miríade de líquidos embolorados, arranco mais uma última tela limpa.
Lanço-lhe frouxas pinceladas, totalmente desesperançado, apenas deixando o braço atingir a alvura à frente.
Algo porém parece estar se formando... tento não pensar o que é, e por isso fecho os olhos.
Sinto o coração galopar como um corcel furioso, as chamas consumindo o caminho, e a mente arder numa febre vertiginosa e letal.
Prossigo.
Já não sinto meus movimentos nem a mim mesmo; sou meu pincel, minha tinha e minha tela.
Estou a tornar-me minha própria arte... “A Ascensão”, irei chamá-la.
Jamais  poderei pintar minha Musa melhor do que é, então, deixo-lhe este  presente... em agradecimento por tocar-me tão fundo a alma.
Penso que ela se agradará do resultado... foi o ápice de sua inspiração sobre mim...








